Órgão oco

Os contos foram lhe contados de forma inversa, perdidos nas entrelinhas dos sonhos das ideias perfeitas. Ela vive em sua própria história utópica, nos ângulos cruzados de toda estrela, ofuscada pelos cheiros, sabores, texturas que não são reais.

Durante o momento mais longe do "felizes para sempre", ele havia à visto sentada em um banco de rua. Sua expressão era de decepção triste. Ela tinha acabado de descobrir que seu castelo era de areia e bem próximo a beira do mar, a ponto de cair. Caiu.

À quem tinha resolvido dar seu coração, fez dele órgão oco, sofrido de abstinêcia de amor e paixão. Sequer desejo existia, apenas vontade. Uso. Seu entendimento não acompanhava tal contradição: como um toque íntimo poderia virar algo tão impessoal e sem sentimentos?

Mas seu novo príncipe estava ali, não? Uma mistura de mistério vampiresco na doçura de um bom cavalheiro, a projeção perfeita. E já não lhe interessava, nesse moemento, à que horas o relógio soaria meia-noite. Porque ela vai esperar até a ultima das doze badaladas, até que a carroagem vire abóbora, o princípe vire cafajeste e o vampiro caia da janela.