Eu, você... E ela (Capítulo 2)

Tudo o que eu queria era me esconder. Trancar os meus olhos e evitar que aquele olhar queimante, escondido entre sorrisos e uma boa etiqueta, me fizesse em pó. Mas agora já era tarde... Eu estava lá, ele estava e ela tambem. Eu comprei a briga e só restava me divertir.

II

Do ângulo em que me encontrava, parada a porta, via o sol lindo que reluzia através da janela da sala. Porém, o ambiente entre nós três, parecia tão gelado e nauseante quanto o clima frio dos polos desertos.

- Oi Monique! - disse Daniel alargando um sorriso pra mim - Tudo bom?
- Tudo ótimo. - Sorri timidamente.

Entrei na casa e conforme atravessava os espaços, comprimentava todos os amigos do meu pai com os tradicionais dois beijinhos. Mesmo com tantos sorrisos e elogios que recebia, não me encontrava nem um pouco confortável. Sentei no sofá de camursa macio, afim de sentir-me melhor mas isso tambem não funcionou. Então resolvi ficar lá, quietinha. Assitindo ao show de Vínicius de Moraes e derivados, sendo sutilmente interrogada por muitos uns e outros: "Como vai a escola?", "E os namorados?", "O que você acha sobre almoçar lá em casa?", "Você deveria voltar com meu filho do colégio?". Tudo tão colegial, tudo tão "Oi, eu tenho 16 anos.".
O DVD já estava acabando e eu já havia começado a me preocupar com o que faria após isso. Por mais que eu fosse comunicativa e descontraída, não queria ficar com cara de deslocada no meio de uma comemoração cheia de pessoas importantes. "Acho que vou ao banheiro", pensei.
Foi aí que eu senti aquele perfume novamente. Já faziam dois anos, mas aquele cheiro sempre se mantera recente no meu nariz e lá estava ele: todo lindo com seus cabelos castanhos dourado liso, seu corpo em movimento perfeito de quem sabe que tá arrasando.... Aaaai, e sim ele estava...

- Já faz muito tempo hein!? - ele indagou, olhando em volta como quem checa a presença da namorada.
- Pois é, a muito não nos vemos.
- Olha Nique... - e eu sabia o que viria depois disso, portanto o interrompi.
- Olha Dan, não precisa se explicar. A muito não nos vemos e está claro que estamos em fases diferentes - não tive forças para continuar, calei-me e saí.

Mesmo quando a razão te mostra caminhos claros, o coração sempre tenta embaçar tudo. Eu queria me render jogar-me em seus braços ser dele e pra ele, mas era mais do que óbvio que estavamos em fases diferentes. Nossos diálogos nunca seriam compatíveis: "Oi Dan como está o curso de Direito?", "Oi Nique, como está indo o 2º ano colegial? Muitas fofocas?". Não ia dá. E alguem me puxa pelo braço. Não quis olhar, mas pensei melhor e olhei. A coragem fazia parte da minha nova perspectiva de vida.

Capítulo 1
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